domingo, 30 de outubro de 2011

Poesia prometida.

Bom, como eu havia prometido, aqui está a poesia do meu bisavô, Wellington Gouvêia Lima.

Quem Sou?

Às vezes, no meu caminho,
Vou meditando sozinho,
Sobre o que sou nesse mundo...
E caminhando a esmo,
Vou perguntando a mim mesmo:
Sou um vil? Um vagabundo?...

...e não me vem, prontamente,
Uma resposta consciente,
Para o meu bem social...
E nesta vã caminhada,
Eu alcanço a encruzilhada,
Incerta, bruta e fatal.

Duvidosa é a minha vida;
Sou a ramagem estendida,
Sobre um velho gibatão...
Que, para ela, só resta,
No coração da floresta,
Dar sombras à solidão.

Sou o sol que nos aquece,
Sou como alguém que padece;
Duvidoso, alguém me fez...
Sou como o mar que se agita,
Sou como a praia bonita,
"Um dualismo, talvez."

Sou a ingrime montanha,
Que desafia a façanha,
De quem, dela, alcança o cume...
Sou dela, o mato orvalhado,
Que esconde o tigre malhado,
Deitado sobre o tapume.

Sou a pedra gigantesca,
Milenar, alta e grotesca,
No leito da grota fria...
Que rolou sem piedade,
Ao sabor da tempestade,
Quando a floresta dormia.

Confesso, também, ser manso,
Oro a Deus e me descanso
Do meu viver agitado...
Durmo tranquilo e sereno,
Do mundo nada condeno;
Não sei se sou condenado.

Sou um velho ninho despido,
Esfacelado e perdido
Num galho esguio do mato...
Cuja rola distraída,
Chocando, perdeu a vida,
Nas finas unhas de um gato.

Quem sou eu? pergunto ainda,
Na indecisão que não finda
Em torno do meu viver...
Talvez, alguém que não sinta
E, que talvez, não consinta,
Considerar-lhe extra ser.

No pomar da minha vida,
Sou roseira florida;
Sou a abelha e o beija-flor...
Sou o perfume das rosas,
Que bonitas e formosas,
São fragmentos do amor.

Imensamente fingido,
Sou como o ar poluído
Que rouba a vida da gente...
Sou valente e malcriado,
Sou veneno guardado
Na bolsa de uma serpente.

É neste meu dualismo,
Que percebo eterno abismo,
Onde mora a maldição...
Sou filho eterno da lua;
Noturno dono da rua,
Vivendo na solidão.

Mas, contudo, não sou louco;
De tudo, possuo um pouco;
Sou capaz até de amar...
Meu coração já palpita,
Querendo graça infinita
E um Deus pra perdoar.

Quem sabe, se muito breve,
Vem chegando, assim de leve,
No meu caminho sem luz...
Uma palavra bonita,
Com muita graça infinita,
Simbolizando Jesus?...

Talvez, assim, minha vida,
Por demais, controvertida,
Ao sabor de uma oração...
Possa ter a primazia,
De, em vez de nostalgia,
Ter Jesus no coração.

Mas, a vida é uma fumaça...
Conforme o vento, ela passa
Vagarosa ou apressada...
Acompanha o meu cansaço;
Desaparece no espaço,
Depois, lembranças... mais nada.

Sou um ser capaz de tudo...
Nos meus atos, fico mudo,
Mergulhado em ironias...
No meu delírio profundo,
Perco a calma e esqueço o mundo,
Envolvido em agonias.

Quero banir desta vida,
Todas as letras fingidas
Que compõem a maldição...
Mas, banirei com cuidado,
Para não haver riscado
O "M" da minha mão.

Sou o rolar da cascata,
Sou o silêncio da mata
E co cantar do rouxinol...
Sou a fria madrugada,
Que agasalha a passarada
E, depois, a expõe ao sol.

Sou a serpente maldita,
Simbolizando a desdita,
Sobre o noturno sereno...
Que, gigante e traiçoeira,
Procura sempre a maneira
De aplicar o seu veneno.

Mas, também, sou carinhoso;
Calmo, gentil e manhoso,
Delicado e humilde, até...
Peço a Deus pelo coitado,
Não posso ver humilhado,
Quem é bom e, em Deus, tem fé.

Dia e noite ando na rua:
Vejo o sol...contemplo a lua
E admiro o céu, também...
Vejo, depois a beleza
Desta linda natureza,
Que alcança longe... o além

Sou como o galo que canta,
Bate asa e se levanta,
Deixando, cedo, o poleiro...
Que, o adversário, devora,
Aplicando a sua espora
Em defesa do terreiro.

Já me disseram um dia,
Que essa minha nostalgia,
É de poeta profundo...
Mas, neste imenso universo,
Quem sou eu pra fazer verso
Capaz de empolgar o mundo?...

Sou como o leito do rio,
Profundo, extenso e sombrio;
Que aceita tudo que vem...
Que sente as águas correndo
E, no seu leito, crescendo,
Tem vida e morte, também.

Meus versos, sem estribilhos,
Transformados em sextilhos
Definem, bem, quem sou eu...
Sou velha planta despida,
Que parece não ter vida
Mas, que também, não morreu.

Então, encerro exclamando
Sem sorrir - talvez chorando -
Os lances que foram meus...
Despedir, me foi preciso:
Adeus, passando indeciso!...
Adeus, lembranças!... Adeus.

Wellington Gouvêia Lima


Pronto, espero que tenham gostado!

4 comentários:

  1. NCRÍVEL, assim mesmo, em maiúsculo!
    Muito muito boa poesia! Me arrepiou, fiquei e continuo boquiaberta!
    Que homem incrível e sábio deve ter sido seu bisavô!

    Espero que veja esse comentário sir, venho comentando seu blog há um tempinho, e até agora acho que não viu nenhum dos meus comentários nesses teus memes literários...

    Bom trabalho por aqui, beijos.

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  2. Era nããooo!!!! Ainda é hihuihuahuaiu não mata o velho não.
    Muito boa a poesia né? Queria ter herdado esse dom que ele tem pra escrita... enfim, não tinha visto mesmo os seus comentários, porque eu estou sem internet, eu só tenho como entrar aos finais de semana, ai fica complicado.
    Beijos

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  3. Estás em bom caminho! Parabéns e não pares de escrever. Seu avô Wellington Gouvêia Lima é um génio, um homem sábio... segue-lhe as pegadas... Abraço forte

    Manuel Ara

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