Crônica do Lenhador
Hoje uma árvore me perguntou o que eu achava de tudo o que está acontecendo no mundo. Os terremotos, tsunamis e desastres naturais que estão tornando-se cada vez mais frequentes na nossa realidade. Após ponderar alguns minutos disse-lhe que eram sinais que a natureza estava nos mandando para mostrar que nós humanos já passamos dos limites, ou que agora estávamos próximos do fim do mundo. A árvore riu de minha resposta e me disse:
- Filho, eu estou nessa terra há muito mais tempo que você possa imaginar, minhas raízes são profundas demais para que você consiga equiparar nossas idades. O tempo em que a natureza mandava mensagens avisando que vocês passavam dos limites já foi a muito, ela agora só está devolvendo aquilo que vocês lhe deram.
“Por anos eu vi meus irmãos e irmãs sendo cortados por vocês, vi o clima mudar. Pra vocês foi uma mudança sutil, mas para nós mudou muita coisa, as estações já não estão mais tão bem definidas. Quando minhas folhas têm de cair eu estou florindo, quando tenho de dar frutos as minhas últimas folhas estão no chão. Mas para vocês que diferença faz? Agora já criam as frutas nos laboratórios, conseguem qualquer uma quando quiserem, não têm mais que esperar a nosso árduo trabalho que pode demorar ciclos intermináveis que só a natureza reproduz com tanta perfeição.”
“Aliás, vocês são mestres nisso. Acham que se nos estudarem horas a fio vão conseguir nos decifrar com perfeição, mas nós não somos um computador, somos obra da natureza, ou melhor, cada uma de nós é um pouco da própria natureza. E vocês continuam nos destruindo.”
“Mas você estava errado em outra coisa também, não existe essa coisa do fim do mundo. O mundo é eterno, ele nunca acaba. Ele está em eterna renovação, sempre foi assim. Nós árvores renovamos as nossas folhas para repor as mais velhas que já estão fracas, os répteis trocam de peles, os pássaros passam pela época da muda, e assim por diante. O processo que estamos passando é natural”
Mas se era natural... porque que a culpa é dos humanos? Eu achava que a culpa era realmente nossa, mas se é natural...
“A diferença é que era pra acontecer daqui a alguns milhões de anos, e vocês conseguiram acelerar o processo, não vai demorar muito para que o mundo entre em decadência, vamos perder muitas coisas que nos são cativas, e o mundo entrara em um novo período de renovação. A diferença entre os homens e a natureza é essa. Nós renovamos, convertemos o feio em belo, até que ele se torne feio outra vez e comece tudo de novo. E vocês, bom vocês inovam, vocês cansam do velho e do feio, e deixam-no largado para trás, entulhado em montanhas de lixo pelos nossos quintais.”
Quando a árvore terminou a frase, meu machado já havia acabado o seu trabalho e seu tronco estava no chão mas suas palavras ecoavam pela minha cabeça, me deixando pensamentos que antes eu não teria. “Quem sabe não é disso que nosso mundo precisa, que todos os homens renovem os seus espíritos.” Quando voltei o olhar para o tronco morto aos meus pés, senti remorsos. Eu não tinha nem dito adeus.
Acho que todos deviamos abrir os olhos pro que está acontecendo ao nosso redor e perceber que nossas ações, por menor que sejam podem afetar muitas vidas.
Eu escrevi esse pequeno texto no começo do ano e decidi postar ele só agora.
Espero que gostem.
Lindo, lindo!
ResponderExcluirVc sabe que adoro essa crônica.
Vc deveria escrever mais.
Beijos,
Mamica!
Nossa incrível, gostei por demais, você devia escrever mais, adoraria ver mais crônicas aqui. Meus Parabéns, eu sempre tenho tantas ideias, mas até hoje não consegui colocar no papel.
ResponderExcluirBeijokas elis!!!!!!